quarta-feira, 29 de outubro de 2008

UM FRANGO E A BÍBLIA

O cenário dessa história foi uma fazenda no interior de Minas Gerais.
Minas tem uma bela topografia, com suas montanhas verdes, córregos, rios e pastagens. Os personagens eram colonos dessa fazenda. Pessoas que tinham a permissão de plantar e morar na terra do fazendeiro, e depois entregavam o produto do trabalho para o próprio fazendeiro.

A metade da colheita ficava com os colonos, que acabavam deixando tudo na venda da fazenda, onde compravam seus mantimentos, naquele velho esquema da caderneta, que funcionava assim: voce chegava sem dinheiro, comprava e anotava as compras numa caderneta. No final do mês voltava para acertar as contas.

Acontece que a venda era do fazendeiro, a terra era do fazendeiro, e quando o colono recebia a sua parte da colheita, precisava entregar tudo para pagar as contas feitas na venda.
Pensando bem, nem o colono era dele mesmo.

Pois bem, nesse contexto viveu uma familia muito especial. Um casal, com dezoito filhos, todos trabalhando na lavoura como colonos.
Durante o dia os homens e meninos trabalhavam na "roça" .

A mãe ficava em casa, dando jeito na "tapera", cuidando das roupas e cozinhando o pão de cada dia, de forma absolutamente criativa com aquilo que tivesse: mandioca, arroz,farinha e de vez em quando um franguinho.
Quando havia um frango no galinheiro, era motivo de comemoração.

Um dia, que parecia igual a todos os outros, apareceu perto da tapera um mascate.
Sabes o que é um mascate? São personagens muito comuns do interior do Brasil, que andam com malas, e dentro dessas malas existem todo tipo de mercadoria para vender e para trocar.

Dona Sophia estava na sua lida diária, quando o mascate gritou lá de fora do terreiro:
"-Óia o mascate, minha senhora. Faz uma troca por comida?"
A Dona Sophia olhou para o mascate e disse:
"-
Troco nada não. Comida aqui é pouca e temos muitas bocas ".
Mas o mascate insistiu:
"-
Trago cá um material que a senhora há de querer ter".
Daí o mascate tirou da mala, em meio a mil quinquilharias, uma bíblia grande, de capa preta, com as inscrições todas em letras douradas.
"_ Ah meu senhor, que faço eu com um livro aqui nos meios desse mato?"disse Sophia.
E o mascate respondeu:
" - É uma bela peça de enfeite... deixa aberta sobre o móvel".
"- Não tem móvel, meu senhor, nem sei ler." disse Sophia,
"-Pra mim não tem serventia".
Mas o mascate tinha fome, e se esticando todo, enxergou o único frango no galinheiro:
-"
Dá esse frango pra matar minha fome que eu te dou essa bíblia".
Sophia riu. O frango era uma iguaria rara para eles, e seria mesmo uma loucura trocar o almoço daquele dia por um livro, e logo para ela, que não sabia ler.

Mas o mascate insistiu.....

.... e Sophia trocou o frango pela Bíblia.

O mascate se foi, e Sophia aprendeu a ler na bíblia.
Um mistério! Um milagre!
À noite, sob a luz da lamparina,ela ficava juntando as letras, formando palavras, aprendeu a ler e se converteu.

Evangelizou toda a família. Ao todo, ela, o marido e dezoito filhos.
Começaram a congregar numa igrejinha que ficava à 10 kilometros da fazenda.
Desses 18 filhos muitos foram evangelistas, alguns pastores, outros pregadores leigos, entre eles meu pai.

Sophia? Minha vó querida e saudosa.
A história? Totalmente verídica!

É a história da minha vida, do meu milagre, da certeza que sou o que sou, e estou onde estou, porque vovó trocou um frango por uma bíblia!

SJ

8 comentários:

louvoreadoracaopibgv disse...

genteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
q babadooooooo....

professora q história bonita...
muito show!

Stella Junia disse...

Pois então, linda Nadyne.
Essa história é um patrimônio da nossa família.
Aliás, a minha família é um patrimônio pra mim. São muitas histórias, de verdade daria um belo livro.
Um dia quero escrever essa história. Enquanto isso não acontece vou postando os capítulos aqui no meu blog.
A minha intenção é que inspire as pessoas.
Obrigada pela visita e pelo comentário.

bj

Valéria Bianconi disse...

Amada!

Lembro que ouvi essa história quando estive em Brasília, há bons e passados anos... e depois tocou lindamente como só vc faz, acho até que era Ebenézer... E ainda deu aqueles tapinhas no piano, em outra peça, hehehehe!! De vez em quando conto sua história em alguma roda por aí e as pessoas acham o negócio do borogodó!!! Escreve esse livro, vai, sobre suas histórias que são muitas pra contar e fazer a mente e o coração viajar, divagar, sublimar...

Stella Junia disse...

Val querida,
A vontade de escrever sempre existiu.
Depois de abrir esse blog aumentou.
Bom, as férias estão vindo por aí, talvez seja uma boa época para começar.
Vc se lembra daquele recital em Brasília? Nossa....já vai longe...

Tão bom ter vc perto assim.

bj

pri&fê disse...

Stela lindaa! Sua história FAZ história nas nossas vidas! Abençoada Sophia, desfrutamos dos frutos até hoje. Abençoada Stella Junia...um bjãooooooooooooooo

Stella Junia disse...

Oi Ana querida,

obrigada.

bjk

Unknown disse...

Gente,conheço essa história desde criança. Tive o prazer de conhecer muitas pessoas dessa familia. Principalmente,uma pessoa que estimo muito. Dr. Oscar que conheçi na minha infância na Igreja Batista de Ipanema.
Saudades de um tempo feliz que não volta mais.

06 de Novembro de 2008

Stella Junia disse...

MArli,
Essa história é um emblema.
Contada para as gerações que chegam, escrita nos umbrais das portas, rsrsrs....
... é preciso não esquecer.

grande bjo e saudade